Andava pela igreja, observando as cores. Os vidros deixavam passar a luz da forma mais esplêndida, alcançava as imagens e as feridas, o sangue passava a ter outra cor, tudo passava a ter mais vida.
Um alfinete jazia em uma almofadinha vermelha, linda, utilizei ele pra perder a virgindade, perder a santidade, perder cada milímetro de falta de sentido que havia em mim com um só "ai" que precederia uma só gota de sangue.
Estou pagando até hoje, senhor? (foi só uma pergunta)
3
Dizia que era amor, não conhecia a etimologia da palavra. Quem se importa? Palavras não chegam aos pés de gritos, urros e gemidos. Somos todos simulacro, perfis em redes sociais.
4
O pôr do sol sempre me arrebatou, lágrimas nos olhos com filmes bobos, músicas previsíveis, somos tão Good/evil
5
E são tantas lembranças em branco. A cor da limpeza e dos espasmos, minha pele recobrando os sentidos aos tremeliques. Toucas azuis, luvas, o toque da borracha movimentando o que ainda não se movimenta sozinho. Moles como pedaços de massa úmida; Corpos são tão vazios de sentido, que nem parecem ter sangue e carne. Não sentir é o mesmo que se enxergar de fora, projeção astral produzida pelo cérebro a partir de substâncias x: A dor se vai, o medo se foi, risadas continuam lá. Objetos pontiagudos irão penetrar seu corpo, para seu bem, para o seu bem. Cicatrizes como lacraias perfeitas, em linhas pretas, cruzando-se num infinito branco. Vontade de acariciar. Sensibilidade que nasceu da dor. Purê de batata é a lembrança mais antiga que tenho junto de um fusca na 24 de maio em pleno sol de verão. Dormir tem cheiro de banana e álcool.
6 RetinasmanchadasSangramentopelosdedosLetrasemaisletras, nenhumaemissãoAbocaseca, opulsotremeAdordigitalizadaemimagensdesconexasQuevisamatentativadeesconderodoresCadaodorprovenientedanegligenciaCadapedaçodehumanidadeemnúmerosOsespaçosentreasteclasabrigamtantossegredosAluzqueteacendepordentrotecalaetecega. As cores são mesmo muito mais bonitas aqui dentro.
O importante é continuar.
Os retratos continuam.