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Algum tempo antes de ingressar e frequentar a faculdade de cinema por alguns semestres, já havia me autoproclamado um moleque chato e "cinéfilo". Era uma criança descobrindo as coisas em fóruns etc., gozando os prazeres torrentianos recém descobertos e pelo menos uma vez por semana marcando presença no circuito Estação aqui no Rio de Janeiro. Numa madrugada insone, dessas de fim de adolescência, acabei me deparando com um filme chamado All The Real Girls (2003, David Gordon Green) em um canal a cabo. Fiquei fascinado pela linguagem adotada pelo filme, diálogos mundanos, por vezes sem muito sentido real, cenas de interação aparentemente improvisadas e uma persistência por tentar retratar  o tédio, o nada. Pouquíssima coisa acontece no decorrer do filme. E a passagem tardia do personagem para a idade adulta foi algo que me marcou muito naquele período. Pouquíssimo tempo depois, descobri o termo "mumblecore" associado a filmes com características similares as que coloquei aí em cima. Nem todo mundo considera All the real girls o exemplo ideal, ele veio pós-Funny Ha Ha (2002, Andrew Bujalski) e tem um orçamento visivelmente maior, mas acredito que teve sua importância no que hoje podemos chamar de movimento. Mergulhei fundo em todos os filmes que pude encontrar na rede que tivessem a tag. No início, era difícil, mas graças a movimentação dedicada de um fórum que frequento regularmente até hoje, os filmes começaram a surgir e  foram agrupados corretamente com legendas aceitáveis. Não demorou muito pra encontrar meu favorito, Quiet City(2007, Aaron Katz). Ele era recente na época. Pode ser considerado, sem medo, um exemplo ideal do gênero. No filme, dois desconhecidos encontram-se numa estação de metrô, a moça pede informação sobre um endereço, o rapaz tenta ajudá-la a encontrar. Eles acabam ficando mais tempo juntos do que o planejado naquela noite e também no dia seguinte e é só isso. Sem grandes diálogos, apenas olhares, caminhadas, conversas desconexas e sem grandes significados ,que servem mais como moldura pra intimidade daquelas pessoas aparentemente solitárias. Momentos compartilhados. O ápice, pra mim, está na cena em que eles tocam juntos o pequeno teclado no quartinho. É um momento que ficou comigo, talvez tenha me influenciado muito, deixar que alguém expanda suas ideias, improvisar com alguém, talvez seja o tipo de diálogo mais sincero que já experienciei. Claro, a cena definitiva ,no metrô, também é memorável. É difícil explicar pras pessoas os motivos pelos quais acho esse filme tão bom, a ponto de figurar entre os meus favoritos. Talvez seja algo pra ser sentido, apenas.

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